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terça-feira, 7 de setembro de 2010

O outro lado do sonho

Era sempre louco com ele. Na verdade, ele a deixava louca de desejo. O mundo poderia acabar naquele instante, mas estavam juntos e talvez isso tornasse tudo tão perfeito. E foi assim naquele dia. Os pais dele haviam saído. Estavam sozinhos em casa como sempre acontecia. Mas aquele final de semana em particular tinha algo de misterioso, ao mesmo tempo em que incendiava os pensamentos dela. Ela estava tranqüila, até ver no computador dele fotos de amigas. Não tinha nada demais. Mas ela era ciumenta e insegura, uma combinação destrutiva. Chorou, esperneou, gritou.
Acabaram na cama. Resolviam os problemas desse jeito. Mas talvez a raiva dela tivesse dado ainda mais tesão ao momento. Os corpos se enroscando junto ao edredom, o suor descendo dos corpos de forma quase sincronizada. A excitação era tanta que ela gritava de prazer.
Mas tudo acaba. Ouviram um som estranho, seguido de uma batida na porta. Era o pai dele. “Vocês podiam ter fechado a porta...”
Céus..! Ela ficou atônita, levantou correndo, vestiu uma roupa. Com o susto ela havia cravado as unhas em seu amado. Ele gemia baixo de dor. Depois de algum tempo, começaram a rir da situação. “Sorte que a sua mãe não ouviu”. Ele ria. “É, ela não está aqui. Menos mal”.
Menos mal. Se beijaram de novo, fizeram amor. Fizeram amor loucamente, só que sem gritos dessa vez. Deitaram exaustos na cama. Alguns minutos mais tarde, uma batida na porta. Era ela.
“Vocês não pensam?!? E se eu entro com uma criança aqui? Que situação..! A mocinha não virá mais aos finais de semana...Você é um irresponsável...Você deve refreá-lo...” Tudo ficou confuso. “Que humilhação, que vergonha...”. Provavelmente ela havia ouvido. Mas pelo susto e raiva não deve ter entrado em casa.
Ela ficou de cabeça baixa como uma criança que sabe que cometeu um deslize. Ele, ao contrário, olhava fixamente à mãe, como se tentasse entender o porquê de tanta reclamação. Houve um silêncio assustador. Ela estava retraída demais pra falar.Ele a abraçou.
Ficariam sem se ver, talvez. Ela não iria mais a casa dele, a vergonha a perturbava. Mas, em momento algum, deixaria de se amar loucamente. Loucamente... Da próxima vez, seriam mais cautelosos. E sem gritos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Eu sei, eu sei...

Nada a declarar. Satisfeitos ?
Meu final de semana foi terrível. Cheio de falsidade e corrupção. Veja só, fui parar na casa de um dos caras mais safados do Rio. Se eu tivesse mais do que o dinheiro que eu tinha, eu voltava pra casa, na hora. Enfim. É só.

Beijosmeligue ;*

domingo, 4 de julho de 2010

Desculpinhas para a Lola *-*

Não chore, meu amor.
Nossa seleção estúpida não merece suas lágrimas amargas pela derrota ridícula. Vamos ser sinceras, a Holanda foi melhor. Você sabe disso. Eu também sei. Mas fique tranquila : outras "Copas" virão. Eu sei, eu sei, é daqui há 4 anos. Mas até lá a gente marca uma pelada no domingo. Joga poker. Bingo. Qualquer coisa.
Não chore, meu bem.
As coisas são assim mesmo. Uns times perdem para outros ganharem. É a lei que rege as coisas. Lei de Sobrevivência no mundo futebolístico. Infelizmente o Brasil não estava no topo da cadeia titular. É o que é. E acabou-se.
Pense só : teria sido pior se você tivesse comprado a vuvuzela. Muito pior. Infinitamente pior. Ao menos você foi consciente. O som daquele troço é insuportável. Você foi sábia, minha querida. Muito sábia.
Pense mais : você não foi à África. \o/ E posso dizer, não perdeu nada.

Você riu e chorou a cada jogo. Vibrou com os amigos. Torceu, vestiu a camisa. Foi brasileira e muito patriota.
Talvez um dia eu largue meu amor por outras seleções (e jogadores de futebol, claro) e torça para o Brasil. Mas não me peça pra chorar. Isso é coisa de gente colorida e emo. Não rola. Mas eu posso tentar.

Aishiteru, Lola-san. *-*

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Brasil, terra de otários !

Otários !
Gastaram dinheiro com tinta pra pintar as ruas, os postes, os rostos. Agora choram porque a sua seleçãozinha de merda perdeu. Otários!
Aprendam a não colocar fé em ninguém a não ser em vocês mesmos. Copa do Mundo é marketing, seu dinheiro estúpido vai pagar a próxima copa. Otários!
Gostam disso? Brasileiro é um povinho que se acha tão esperto. Infelizmente só acham porque não são, são todos uns burros. Gastaram dinheiro comprando pom pom e vuvuzela (que porra é essa?), agora vão jogar no lixo ou guardar no quartinho velho nos fundos da casa.
Aproveita pra próxima copa. Vai ser no Brasil né?! Então em vez de vuvuzela vão tocar atabaque. TENSO.

Espero que tenham gostado da bela aparição brasileira. Técnico ruim, time merda. É isso aí. Salve a seleção Canarinho. õ//

Beijosmeligue ;*

(e a revolta continua...)

domingo, 27 de junho de 2010

Sem pensamentos dessa vez

Já é tarde pra correr atrás. Me arrepender de coisas que fiz não muda o fato de que as fiz. Já estão feitas, ou seja, pensar muito de nada vai adiantar. Saber que algo está crescendo como um pensamento vivo só faz crescer o desespero e o medo de algo desconhecido. É só assustador, sabe?
Como boa covarde que sou (e disso não me envergonho porque sou mesmo e blá blá blá) tenho medo, tenho pavor, pra ser mais exata de tudo que desconheço. Não conheço por isso sofro. Imagino mil faces, mil sons, barulhos se misturando na neblina, um último trago, dois chopps e uma caipirinha. Caipirinha me relaxa. É o meu santo remédio.
Pensamento cresce que nem erva daninha que deve ser podada. Pensamento ruim, claro. Mas às vezes, e somente às vezes, ele é muito necessário.
Sem pensamentos dessa vez. Me dê um chopp e um cigarro. Ninguém morre por causa disso.

sábado, 26 de junho de 2010

Falta do que fazer.

Sem críticas. Sem choros. Sem apegos. Sejamos todos felizes, felizes.
Mas será que dá certo ? :)

Chorar não é necessário ? Tão necessário quanto rir ?
Amar não é necessário ? Viver, sonhar ...
Vivamos e amemos então. õ/

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Explicação à Fuga.

Não me importa, de verdade. Podem me chamar de fujona, de covarde. Mas é o que sou, não é? Sou covarde mesmo. Fujo mesmo. Mas se todos fossem corajosos, o Hércules ia ser um Zé Ninguém, ou o Ulisses, da Odisséia, ia ser aquele nerdzinho sentado na frente do professor. Porque no mundo existem os corajosos, mas também existem os fracos, os covardes. Se me incluem nesse grupo, eu lamento muitíssimo. Mas eu e os meus colegas fracos e covardes temos que existir pra esse mundo girar. Porra!, a coisa toda não funciona assim não. Todo mundo destemido, corajoso... Isso não existe, ninguém é assim. Fujo mesmo e qual a vergonha disso? Os melhores momentos que tive foram durante minhas fugas, 4 ou 5, sei lá;
E estou viva agora, não estou ? Fugirei quantas vezes forem necessárias, farei isso mesmo. Porque o mundo tem que girar.

sábado, 19 de junho de 2010

O Sabor de Uma ironia

-Quindim?!
O sorriso sumiu do rosto de Elô, dando lugar a uma expressão desconhecida de preocupação. " Era só o que faltava! Onde já se viu..."
-O que foi, Elô? Você não gosta de quindim?
-É o meu doce favorito, amor.
ELe sorriu.
-O meu também. Coincidência...Então, por que você fez essa cara?
Ela se ajeitou no sofá da sala. Deu de ombros.
-Você disse que se eu fizer um quindim, aparece aqui em casa amanhã mesmo com as alianças, me pedindo pra casar. Isso é sério?
Ele riu.
-É. Qual é o problema? Você não me ama?
-Você sabe que eu te amo, mas casamento é coisa antiga, ultrapassada. Eu sou moderninha.
-Bom, promessa é promessa. Agora eu tenho que ir. Te ligo assim que chegar em casa, tá?
Ela concordou com a cabeça, pensativa.
-E, Elô, não esquece que eu te amo muito.
-Eu também te amo, meu bem.
Se beijaram e ele se foi.
Elô correu desesperada até a cozinha onde sua mãe descascava batatas.
-Mãe, mãe!...
A mãe de Elô se assustou.
-O que houve? Pare de gritar!
-Você sabe fazer quindim?
A mãe quase se engasgou.
-O quê?! Quindim? ELoísa, você enlouqueceu de vez?
-Não, é porque eu quero aprender a fazer quindim.
-E eu posso saber o porquê?
ELô sacudiu a cabeça, confusa.
-Sabe fazer ou não?!
-Eu não sei fazer doces, Elô. Nem eu, nem sua avó...
Pânico.
-É... Acho que eu vou fazer um curso de culinária então.
-Por quê?
-Deixa, deixa...
Foi para o quarto e começou a ligar para os cursos de culinária. Especializados em doces, claro. Quindins, especificamente. Era moderninha, mas nem tanto.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Brasil, mostra a tua cara ... (8)

Olá. ¬¬
Sim, eu estou chateada. E muito.
Odeio Copa do Mundo. Não sou nada patriota, nada nacionalista, mas estou vivendo, tentando ser a melhor pessoa que eu conseguir ser, tentando pensar nos outros, fazer a diferença.
Mas o que me deixa intrigada, pra não dizer puta, é que ninguém pensa em ninguém, vivemos numa terra louca e sem lei ética prática, onde é "cada um por si, deus por todos". Mas chega a maldita Copa e todos fingem ser amiguinhos, irmãos; pintam as ruas juntinhos, se abraçam, comemoram a suprema estupidez que é. Desculpem a revolta, mas é o que penso. Uma vez em cada 4 anos, as pessoas são amigas, você vê o companheirismo estampado no rosto dos adultos e das crianças. Tudo é cor de rosa, tudo é lindo. Mas depois que tudo isso acabar, o que restará serão as cores da tinta desbotada no chão de cada rua, as bandeirinhas meio rasgadas penduradas nos postes, uma alegria que vai embora como veio. Rápido, rápido. Caso o Brasil perca, o que é bem provável. Time fraco, técnico sem personalidade, enfim, uma grande merda. Mas se acontecer o milagre de o Brasil ganhar, as ruas se tornarão um fervo impenetrável, as pessoas cantarão a kléos dos jogadores super cults, vai ser ótimo.¬¬
Não me interpretem mal, não quero parecer pessimista (quer dizer, pensem o que quiserem!), mas estou cansada dessa falsidade generalizada, dessa mediocridade sem limites. Poxa, tanta coisa importante a ser feita e o mundo para por causa de futebol?? ¬¬
Quer saber? Ignorem tudo. COntinuem torcendo, gritando, tocando aquele instrumento que parece uma buzina insuportável, que eu nunca consigo lembrar o nome, façam isso. É divertido, continuem, continuem. Mas não consigo fingir que o mundo real é mundo feliz, quando tanta gente passa fome, anda por aí sem amor, sem verdade. Não dá.

É isso. Desejo uma Boa Copa do Mundo pra todos, afinal de contas, tem lá suas vantagens, tipo não ter aula a tarde. Que vença a melhor seleção, que eu espero que seja a da Itália. *o*

Já disse que eu não sou patriota né! É meio óbvio. >.<

Beijosmeligue;*

(Espero não ter ofendido os torcedores fanáticos, mas vivemos num país livre, pelo menos deveria ser livre. Enfim...Liberdade de Expressão!)

domingo, 13 de junho de 2010

EU ;*

Sem textos, dessa vez. Serei mais pessoal, está bem?

Bom, me chamo Yasmin, mas assino como Kayla T. porque ela tem mais personalidade. Faz parte de mim, igualmente, mas eu não tenho muito talento com as palavras. Sou sem graça e boba, ela é adulta e forte. Por isso eu a criei, meu pseudônimo estilo "Super-homem/Clark Kent". Eu sou o Clark, claro. Ela é a heróina.
Tenho quase 18 anos, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. Bom, porque eu sou quase adulta, ruim porque eu já posso ser presa, o que não é tão legal assim. Não tenho feito nada de ilícito ultimamente. Ultimamente. rs
Sou uma pessoa meio louca na maior parte do tempo, faço as coisas de forma intensa e não sei viver de outro jeito. Mas gosto disso.
Sou meio desorganizada com papéis, post-its, livros, pastas do computador, album de figurinhas, roupas. Tudo que me dão, eu vou guardando em um milhão de caixas, ficheiros, arquivos. Tudo mesmo. Mas não organizo nada, logo tudo fica perdido em meio ao meu mundo (sim, eu tenho vocação pra ser autista, todos dizem isso).
Sou compulsiva por sapatos. Fotografia. Música medieval. Halls de Cereja. Livros do Veríssimo.
Acho que tudo tem um lado bom, inclusive as coisas ruins.
Acredito em amor eterno, verdade absoluta, porque acho relativismo uma coisa maquiada e chata.
Eu sou amante de Rock, de Blues, de Jazz, música clássica.
Sou engraçadinha, rio com os olhos, gosto de ver os outros sorrirem, acho tudo muito natural.
Sou mais ou menos assim.
Beijosmeligue ;*

sábado, 12 de junho de 2010

A Ti

Daria a ti tudo o que possuo,

Mas ainda assim seria pouco.

Poderia entregar-lhe todo o meu mundo,

Ou até mesmo meu grito triste e rouco.

Daria a ti lembranças eternas,

Beijos roubados e olhares sorridentes.

Alguns carinhos ao longo de tuas pernas,

Toda a minha vida envolta em papel de presente.

Mas nada encontro que seja a tua altura,

Nada que me seja visão mais bela do que

Seus cabelos caindo sobre sua carne nua.

Presenteio-lhe então com meu coração,

E se fizeres bom uso de todo ele

Terás de mim doses eternas de paixão.


Nathan Menezes, mais do que especial. *o*

Entre Cigarros e Chopps

Ele a amava. Ela o amava. Os dois precisavam um do outro loucamente, mais que tudo. Haviam se apaixonado e, desde então, não sabiam mais como era viver um sem o outro. Podia acabar o mundo, mas enquanto estivessem juntos, seriam fortes o bastante para suportar qualquer coisa. Discutiam sobre tudo, de filosofia à futebol. Ela queria estar à altura dele. Ele queria o mesmo.

Mas no Dia dos Namorados, ele resolveu dar um presente para os dois. Um presente diferente, ousado, proveitoso. Resolveu levá-la à um motel cinco estrelas, perto do barzinho favorito deles. Tomariam uma birita e ele, claro, fumaria uns três cigarros, enquanto ela o observaria em silêncio, alternando entre olhar para ele e para o chopp. Ela amava beber, mas ela o amava mais que isso. Passaria a vida toda sem uma gota de álcool, mas não sem ele.

Dentro do carro a caminho do motel, ela perguntou com um riso nos olhos:

-Onde iremos hoje? No Bar do Seu Zé?

Ela tinha um olhar quase ingênuo, mas ele a conhecia bem demais para saber que era só uma ligeira impressão. Impressão errada, certamente.

-Não, não iremos ao Bar. Você queria beber?

Ela riu, como se ele tivesse feito cócegas.

-Eu quero beber todos os dias, mas não hoje. Hoje eu não serei do álcool. Serei só sua, como deve ser.

-Fico feliz em ouvir isso. De verdade… Então, hoje você é só minha?

-Nos outros dias também, meu amor. Estava brincando…

-Quero te levar em um lugar diferente.

-Se eu estiver com você, vou à qualquer lugar.

Ele parou o carro na frente do motel. Ela abriu a janela, sorriu e perguntou:

-Lugar… Diferente?

-É. Mais ou menos.

Ela concordou com a cabeça. Estava um pouco constrangida, mas fazia de tudo para agradá-lo. Ele alugou uma suíte de luxo, bem decorada, com champanhe e morangos, fruta favorita dela. Ela observava tudo em silêncio. Ele disse que estava suado e que gostaria de um banho. Ela sorriu maliciosamente, dizendo:

-Posso ir com você?

Ele a puxou pela cintura e a beijou intensamente. Ela tirou o cinto da calça dele, suas mãos passeando pelo corpo que ela tanto amava. Cada detalhe, cada gesto. Ele tirou sua camisa delicadamente. Ela o queria mais que o ar. Precisava dele todo o tempo, nunca havia se sentido tão dependente de alguém em toda a vida. Nunca.

Eles tomaram banho quase que em silêncio; só podia se ouvir o atrito dos corpos ao se tocarem. Ela estava feliz, radiante, completa. Ele também. Saíram do banheiro sorrindo, ainda em silêncio. Sentaram-se na cama, beijando-se loucamente. Ela, dando morangos em sua boca, enquanto ele bebia champanhe. Ela odiava champanhe. Talvez por isso a idéia de trazer o vinho tinto na bolsa. Bebeu direto na garrafa, sentiu o efeito do álcool na hora. Ela suspirou e disse:

-Estou feliz de estar aqui com você.

Ele sorriu, a beijou e disse:

-Ah, é? Acho que eu estou mais feliz… Não gostou da ideia de vir aqui?

-Bom, não sou muito fã de motéis. Não mesmo.

-Eu só quero te fazer feliz.

-Eu quero o mesmo.

Ela o beijou e eles fizeram amor durante longo tempo. Depois de algumas horas, eles foram embora. Ele, já sob o efeito do champanhe, disse:

-Acho que eu não posso dirigir bêbado.

Ela sorriu, e disse:

-Vamos deixar o carro num estacionamento. Amanhã você vem e pega. Mas antes… Vamos beber no Seu Zé.

Tomaram uma birita e ele, claro, fumou uns três cigarros, enquanto ela o observou em silêncio, alternando entre olhar para ele e para o chopp. Mas dessa vez o chopp podia esperar.

domingo, 30 de maio de 2010

Apresentações.

-Você é extremamente desagradável, mocinha.
-Aprendi com o melhor, pai.
Ele me olhou com aquele olhar de reprovação com o qual eu já estava acostumada. Odiava minhas ironias, minha forma de ver o mundo, de pensar o mundo. Mas a culpa não era minha. Ele quis vir para o Brasil, ele quis que eu estudasse numa escola normal, com gente normal. Ele. A pessoa que sempre decidiu por todos da família. Mas eu não sou ingrata. Muito pelo contrário. Se nós não tivéssemos nos mudado provavelmente eu teria que seguir os dogmas da religião dele. E eu não sigo nada.
Depois que nós viemos para o Brasil, eu comecei a ler coisas que eu não lia antes (nem podia ler, na verdade), ver coisas que não podia, porque tudo era proibido, na visão do meu pai. Eu sempre respeitei a tradição, fazia de tudo para não perder a essência mulçumana, mas era difícil. Nunca consegui levar muito a sério a doutrina, sempre fui meio... Cética.
-Kayla, não gosto da forma como você vem se comportando.
-Pai, eu sou adulta. Eu moro sozinha, trabalho... Não faz sentido me tratar mal por uma coisa à toa.
-Coisa à toa? Você quer deixar de ser você, quer deixar de ser uma de nós, quer deixar de ser família, quer deixar de ser tradição.
-Isso é loucura. Eu só estou te dizendo que não vou mais às mesquitas, nem usarei véu. Continuaremos sendo família. E o mais importante: eu vou continuar sendo eu.
-Você é muito insolente.
-Pai...
-Não me dirija à palavra. Entendeu?
Olhei em seus olhos. Senti uma lágrima descer pelo meu rosto e parar na minha blusa. Tentei parecer inabalável, mas estava triste demais para parecer qualquer coisa.
-Entendi. Se você quer assim... Eu vou indo. Não tenho mais argumentos, pai. Eu sinto muito. Muito mesmo. Adeus.
Me virei e andei até a saída. Peguei as chaves da casa e um cigarro. Dei um trago e respirei fundo a fumaça. Entrei no carro, joguei a guimba fora e dirigi até em casa.
O celular tocou. Era ele. Pensei em desligar. Atendi.
-Pode falar, pai.
-Desde quando você fuma?
-Você quer realmente saber?
Silêncio.
-Quero.
-Desde os dezoito. Por quê?
-Não tem medo de morrer? Alá pode guiar seus passos, meu bem.
-Não tenho medo da morte, pai. Não quero ajuda de Alá, nem de Krishna, nem de Buda. Era só isso?
-Eu só queria dizer que te amo.
Engoli a lágrima que tentou se instalar em meus olhos. Respirei fundo.
-Mais tarde conversamos.
-Acha que é possível viver sem ter fé em algo?
Pensei por alguns segundos antes de responder. Não estava acostumada a dialogar com ele. Principalmente sobre assuntos tão delicados.
-Acho que é possível crer em si mesmo antes de tentar crer em algo externo, pai. Ter fé em si e nos outros vai muito além de qualquer assunto religioso.
-Você não era assim.
-Eu cresci. Aprenda a conviver com isso.
-É você cresceu.
Ele desligou o telefone. Eu respirei fundo e continuei dirigindo. Um minuto depois o telefone tocou. Era ele, de novo. Dessa vez preferi continuar dirigindo.

Kayla Z. Tharän

O impossível

Eu me vejo num realismo paralelo
Quando o nada reverte-se em poesia
Inspirada pelo teu andar tão belo
Do qual quero ser companhia

E ver que o sonhar não me enlouqueceu
Podendo sentir tua paixão e essência
E até teu coração pulsando junto ao meu
Contigo co-habitando minha existência

Os ideais que eu não alcançava
Teus beijos os fizeram reais
O impossível tornou-se só um palavra
Que meus lábios já não dizem mais

Agora o impossível é um termo frio
Inibido por tua sensibilidade
Eu buscava por um sentimento não obvio
E em você, encontrei felicidade

Por Daniel Scarmont, amigo, filósofo e poeta. Gostaria de escrever como você. =)

Términos e outras ironias

A chuva caia torrencialmente, naquela noite. Sofia pressentia que o fim estava próximo. O fim do seu namoro com Tiago. Ela acordara com aquela sensação ruim e permanecera com ela durante todo o dia.E agora, lá estavam eles, com aquele olhar temeroso.
Tiago a observou por alguns segundos. Ele a amava, mas a relação dos dois era insustentável. Por mais que se amassem, por mais que quisessem estar perto um do outro, ele sabia que o melhor era estarem afastados.
-Sofia, eu...Eu te amo.
Ela estava aflita. Nunca imaginou que fossem terminar. Ou nunca quis imaginar. Tiago sempre dizia a ela que enquanto estivessem juntos, seriam fortes. E naquele instante, ela se sentia fraca, vulnerável. E o pior: sozinha.
-Tiago...
Ele a interrompeu. Estava sofrendo, mas não demonstrava.
-Você acha que o nosso namoro está como antes?
Ela o olhou nos olhos.
-Acho. (pausa) Não...
Ele tentou resumir o que sentia, mas não deu certo.
-Amor, nós não podemos nos ver, nem nos falar. Eu me sinto mal por isso. Então o que nós faremos?
Sofia não estava conseguindo acreditar. Se sentia mais leve, mesmo tendo que tomar uma decisão difícil. Aliás, uma decisão que já fora escolhida.
-Tiago, é assim que se termina?
Dolorosamente, ele disse:
-Não sei, acho que é.
Sofia assentiu com a cabeça. Sorriu para ele.
-Está tudo bem, nós somos amigos.
Ela o amava demais para ficar chateada com ele. Simplesmente não conseguia odiá-lo. Mas ainda o considerava um fraco. Completamente paradoxal.
Ele olhou em seus olhos, desconfiado.
-Está tudo bem mesmo ou você está se fazendo de forte?
-Eu sou forte. Não vou chorar mais. Estou cansada.
Sofia se despediu dele. Quando já estava perto da porta, ele disse:
-Eu te amo, tá?
Ela preferiria que ele tivesse dito: "eu te odeio; nunca mais quero te ver!". Seria mais fácil esquecê-lo, por mais que fosse mentira Mas isso já não importava. Nada mais importava.
Saiu da casa dele correndo, deixando que a chuva a consolasse. Infeliz decisão. O máximo que conseguiu foi um resfriado. Mal curado, por sinal.
O amor tem dessas coisas. Não escolhe as "vítimas", apenas surge ao acaso. Cresce dentro do coração e, quando vai ver, já está como erva daninha, dominando os sentimentos. Quando acaba, deixa marcas. Ou somente um resfrado mal curado. Tanto faz.

Kayla Z. Tharän

Invólucro

-A senhorita pode repetir seu nome, por favor?
Era a oitava vez que eu dizia.
-Kayla Zyiad Tharän. Querida, você quer que eu escreva? Eu sei que é um nome bem peculiar, se é que você me entende.
Eu já estava no Banco há mais de três horas. Aquela burocracia me enauseava. Porque não existe nada pior do que uma tarde inteira perdida dentro desse tipo de lugar. Tumulto, pessoas suadas (desligaram o ar-condicionado para evitar gastos), mal-estar generalizado.
Um atendente veio falar comigo. Disse algumas palavras indecifráveis. Eu o observei por alguns segundos antes de rir. Ele não entendeu o motivo da minha risada e perguntou se eu estava com algum problema.
-Querido, meu problema é estar aqui. Odeio Bancos.
-E a senhorita está rindo?
-Evidente que sim. Você quer que eu chore?
-Não, não mesmo.
Ele me levou até o andar superior para falar com o gerente. Eu quase tive um ataque de riso quando o vi, mas consegui me conter; ele sequer percebeu. O gerente era um homem pequeno, franzino, de óculos. Deve ter sido um desses "nerds" que se matam de estudar, e que todos ignoram. Mas lá estava ele, ocupando um cargo importante, provavelmente se vangloriando por esse feito. Ele me olhou de cima à baixo, depois sorriu. Se levantou e estendeu a mão para me cumprimentar. Eu hesitei por um momento, mas a minha educação me obrigou a cumprimentá-lo também.
-Olá, meu nome é Kayla Tharän. Eu quero abrir uma conta.
-Sente-se, senhorita Tharän...Nome diferente, não? É indiano?
-Não, é de origem árabe. Eu sou árabe.
Percebi que ele se assustou um pouco. Depois da onda de terrorismo, as pessoas criaram certo estereótipo para árabes, como se todos fossem terroristas. E, definitivamente, não era o meu caso.
-Você é muçulmana?
Na verdade, ele quis dizer: "Você é xiita?" ou "Você faz parte de algum grupo muçulmano radical?". Tão óbvio...
-Não...Eu sou filha de muçulmanos, mas não sigo a tradição. Sem véus, sem dogmas.
Ele relaxou e começou a fazer perguntas sobre a minha condição financeira. Depois de uma hora e meia, ele disse:
-Eu sinto muito, mas nós não podemos abrir uma conta para você.
Não entendi absolutamente nada. Fiquei em choque por algun segundos, pensando no tempo que eu havia perdido ali.
-Por quê?!
-Bom, você sabe...
-Não, eu não sei.
-Você não compreende...O fato é: você é árabe e isso pode ser "perigoso" para o Banco.
Era só o que faltava! Quatro horas e meia num Banco estúpido para ouvir um discurso xenófobo do gerente.
-Você está louco? Como tem coragem de dizer isso? Eu posso processar você e o Banco, sabia? Xenofobia é crime.
Ele se levantou, ajeitou o paletó e a gravata, e sentou novamente. Tentou argumentar, mas não sabia como.
-Perdoe-me, senhorita Tharän. Eu não queria...Não foi o que eu quis dizer...
-Mas disse.
Ele parecia estar nervoso. Gaguejava até não mais poder. Hilário.
-Eu sinto muitíssimo...Ahn...Talvez nós possamos abrir uma conta para você....
Me pus de pé rapidamente, fingindo estar ofendida. Peguei minha bolsa e disse:
--Agora, quem não quer abrir a maldita conta sou eu. Que absurdo..! Eu não vou dar liçãozinha de moral; não faz o meu tipo. Tampouco vou processar quem quer que seja. Meu tempo é precioso demais para gastar com pessoas como você. Adeus.
Saí da sala, irritada. Não sabia o que fazer. Optei pelo óbvio: ir para casa. Ao chegar, corri para o meu quarto. Procurei um presente que o meu avô havia me dado quando eu fiz dezoito anos. Um porquinho de barro. Era enorme, cabia bastante dinheiro. Respirei, aliviada.
Sem tumulto. Sem pessoas suadas. E o principal: sem gerentes xenófobos para me irritar. Apenas o porquinho, por sinal muito carismático. Livre de preconceitos. Livre de filas. Simplesmente porquinho.

Kayla Z. Tharän

Noite Quase Perfeita

Engraçado como as coisas acontecem. Eu, ele e uma infinidade de pessoas pulando, bebendo e dançando ao som de uma musica ensurdecedora. Eu só percebi que aquela festa não era o meu lugar quando cheguei lá. Pelo menos eu percebi sóbria. Talvez essa fosse a razão de eu não gostar de tumultos e suor e gente bêbada. Sim, adoro bêbados, mas não em grandes quantidades. É insuportável. E principalmente, eu o queria só, sem gente empurrando você para os cantos, achando que vão se lembrar no dia seguinte. E não vão, obviamente. Ou vão fingir que não lembram; muito mais cômodo.

Eu não queria estar lá, é fato. Mas ele estaria e por ele eu faço coisas que depois penso e chego à conclusão de que na verdade eram bem idiotas. Mas, por favor, não pense que eu estou reclamando. Reclamar é uma grande estupidez. Mas essa na verdade nem é a questão.

Foi realmente engraçado, sabe? Ele não sabia que eu estaria lá, seria mais uma festa regada a álcool e música alta. Mas eu precisava tanto dele que resolvi ligar. Nos encontramos depois de alguns minutos; foi a minha redenção. Estar perto dele tornava as coisas mais agradáveis, mesmo depois de tudo o que tinha acontecido horas antes com os meus pais. Mas isso não importa. Nada importa. Ficamos um tempo ali, ele, um amigo e eu. A sensação de “pseudoclaustrofobia” se instalando em cada centímetro do meu corpo, falta de ar e frio, muito frio. Porque estava tarde e a minha pequena roupa não estava ajudando muito. Ele e eu saímos para comprar cerveja em outro lugar. Seria bem melhor, menos fila, menos tudo. Felizmente encontramos outro amigo e fomos para o apartamento dele. E é aí que a minha noite quase perfeita começa.

Ficamos sozinhos na sala (momento de glória, finalmente), apoiados no para-peito da janela, sentindo a brisa suave e gelada que entrava. Ele fumava e eu observava a pouca movimentação da rua. Ele olhava para baixo, sensação de vertigem. E eu ignorando o mundo todo e pensando nele. Coloquei uma musica e nos sentamos no colchão estirado no chão, nossa cama improvisada. Ficamos abraçados; ele, acarinhando os meus cabelos, eu, totalmente sonolenta, mas extremamente feliz.

Já era tarde. Nos deitamos e ficamos em silêncio; a escuridão sempre me agradou, pelo menos no sentido literal da palavra. Mas naquele momento eu só conseguia sorrir, só por estar ao lado dele. Nos beijamos, e tudo parecia perfeito. Sua língua penetrando em meus lábios, nossos corpos se tocando de forma louca e frenética. Perfeito, não é?

Errado. Poderia ser perfeito. Poderia sim, acredite. Mas... Adrenalina a mil, sangue fervendo e ele lembra que não tem camisinha. Céus...! Entendeu agora? Entendeu o “quase” que vem na frente da minha noite perfeita? Eram quatros horas da manhã, nós estávamos sozinhos a horas e ele simplesmente esqueceu um item necessário: a maldita camisinha. Há. Chega a ser engraçado. Muito engraçado. Na verdade, o problema mesmo foi dormir depois, o sono já havia ido embora com o vento da madrugada.

Mas, mesmo sendo a minha noite quase perfeita, ele estava lá e isso seria o suficiente para mim.

Kayla Zyiad Tharän.

Primeira vez a gente nunca esquece. =)

Calma. O titulo ficou meio ambíguo, mas é melhor ignorar isso. Não importa o que acontecer, cá estarei, escrevendo as loucuras e imbecilidades do cotidiano, que eu tanto adoro. Bom, é isso (eu sei, foi meio lacônico, mas não importa).

Beijosmeligue;*